As ações de diversidade e inclusão promovidas pelo Centro Universitário Estácio, em Sergipe, foram reconhecidas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT-SE), que recomendou a adoção de suas práticas como referência para outras instituições de ensino superior no estado. O reconhecimento veio após audiência coletiva realizada em dezembro do ano passado, que discutiu a desigualdade racial no ambiente acadêmico e profissional.
A iniciativa da Estácio se destaca em um cenário onde a inclusão ainda é um desafio urgente. Pesquisas apontam que 84% dos jovens negros já presenciaram ou vivenciaram situações de preconceito no ambiente educacional, e mais da metade dos estudantes universitários negros relatam terem sido vítimas de racismo. A participação de pessoas com deficiência no ensino superior ainda é de apenas 0,4%, segundo dados nacionais.
Frente a essa realidade, a Estácio tem se consolidado como pioneira em políticas afirmativas no estado. Entre as iniciativas reconhecidas pelo MPT-SE estão os grupos de afinidade voltados para mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiência, LGBTQIAPN+, entre outros. Esses espaços promovem escuta ativa, acolhimento e aprendizado contínuo.
A advogada da instituição, Eline Mendonça, destacou a atuação do Programa de Excelência em Gestão (PEG), que reserva vagas para grupos minorizados, além da adoção do “cartão amarelo” — um símbolo educativo fixado nos crachás dos colaboradores, que serve como lembrete de condutas inclusivas e do combate à linguagem discriminatória. “Quando identificamos uma fala capacitista, racista ou homofóbica, usamos o cartão como um lembrete respeitoso da política da instituição”, explicou Eline.
Bárbara Souza, coordenadora de relacionamento da Estácio, é um exemplo vivo da eficácia dessa cultura. Mulher negra, ela ingressou como aluna de marketing e, em 2020, foi contratada como assistente no Núcleo de Apoio ao Estudante (NAE). Hoje, lidera uma equipe e vê sua trajetória como reflexo do compromisso prático da instituição: “Aqui não é só discurso. É ação. Me sinto acolhida e orgulhosa por fazer parte de uma universidade que realmente pratica a inclusão.”
O MPT-SE elogiou publicamente essas práticas e incentivou outras instituições privadas de ensino superior a seguirem o exemplo. “Eu fiquei muito contente, mas triste por saber que ainda há um longo caminho a ser percorrido. Somos pioneiros, mas não estamos fazendo mais que a nossa obrigação constitucional”, afirma Eline.
Nos próximos meses, novas rodadas de diálogo devem ocorrer com instituições sergipanas e o MPT-SE, buscando a construção coletiva de políticas educacionais mais representativas, que garantam não apenas o acesso, mas a permanência e o sucesso de todos os grupos sociais no ambiente acadêmico.